Descrição

O "Correio do Porto", em comunicado, diz: - "O provedor e mesários da Misericórdia da Vila de Guimarães, por ocasião do restabelecimento d'el-Rei Nosso Senhor, determinarão fazer celebrar no primeiro de Janeiro, na sua igreja missa solene, e Te Deum, em acção de graças ao Altíssimo por tão assinalado benefício, com toda a pompa e asseio, fazendo armar a igreja com a maior riqueza, embandeirando a porta e galeria da mesma Santa Casa; dentro da igreja se viam sobre o Arco Cruzeiro as Armas Reais, escudadas com o emblema da Providência; ao lado do Evangelho o retrato do nosso amado Rei, debaixo de um rico docel, e a seu lado a cadeira que devia ocupar Sua Alteza o Príncipe Frederico de Heese, que se dignou assistir; do lado da epístola outra na forma do ritual, que devia ocupar o Reverendo Padre geral dos monges de S. Jerónimo, e se lhe seguiam o D. Abade dos mesmos, e mais prelados das corporações religiosas; do lado direito estavam os lugares para todas as autoridades civis, senado da Câmara e oficiais militares; e do outro lado a Exmª Viscondessa da Azenha, suas filhas, e mais senhoras de distinção em, grande gala. Esta função foi anunciada na véspera com girândolas, e repique de sinos, e iluminações dos vizinhos, e muitos mais moradores espontaneamente, e outros. Repiques e girândolas anunciaram a aurora de tão fausto dia: depois do que se postou ali o Batalhão de Voluntários Realistas, para fazerem a polícia e guardas, comandados pelo mais velho capitão, por seu major comandante ser o actual provedor da Santa Casa, e por cujo cuidado era a função. Às 10 horas estando tudo pronto, e reunido, chegando Sua Alteza, e recebido na forma do cerimonial, tomando o seu lugar, principiou a missa, celebrada pelo Reverendo chantre da insigne Colegiada, acolitado por dois Reverendos Cónegos da mesma, e executada por hábeis músicos, e subindo ao púlpito, gratuitamente, pregou o Reverendo Padre mestre Frei Bento de Jesus Maria, residente na mesma Vila, bem conhecido por sua adesão à Realeza, e por suas virtudes morais, e civis; e com a sua costumada eloquência e energia mostrou os males que se preparavam a Portugal, e as fervorosas orações que todos devíamos dirigir ao Todo Poderoso, por nos trazer, e salvar a vida ao nosso bom Rei, o senhor D. Miguel I, fazendo-o com tal veemência, e clareza que os olhos dos ouvintes mostraram a compunção dos corações avivados para suplicar ao Rei dos Reis, pela vida e conservação d'el-Rei Nosso Senhor, e louvá-lo com o hino Te Deum Laudamus, Te Dominum Confitemur. Logo que findou se retirou tudo na mesma ordem, por entre vivas entoados pelo comandante e voluntários, correspondidos por inumerável concurso, que continuou todo o dia a orar, por ficar o Santíssimo Exposto, sem que houvesse a menor alteração nem desassossego".

Data

1 janeiro 1829