O Arquivo da Administração da Região Hidrográfica do Norte:

um património a conhecer e a valorizar

 

Dando continuidade ao Projeto ArchivAve e em resultado de um protocolo estabelecido com a Casa de Sarmento a coleção de documentos do Arquivo Histórico da Administração da Região Hidrográfica do Norte (ARH do Norte) /Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está atualmente depositada no nosso edifício sede, sendo progressivamente disponibilizada na Internet. Com este projeto, pretendemos dar conhecimento da riqueza e da enorme variedade de aproveitamentos hidráulicos que ao longo dos anos se estabeleceram na Bacia do Ave, para além de disponibilizar, a comunidade científica e a sociedade em geral, um património documental de enorme valor e importância.

Os diferentes tipos de aproveitamentos hidráulicos apresentados, embora desempenhassem um papel significativo no regime económico da região da Bacia do Ave, foram secundarizados nos trabalhos de estatísticos realizados em Portugal – nomeadamente nos Inquéritos Industriais -, existindo também um número não muito significativo de estudos sobre os mesmos, pelo que em grande medida são desconhecidos do grande público.

A análise dos diferentes tipos de aproveitamentos hidráulicos existentes na Bacia do Ave, e o facto de grande parte deles ainda ser de utilização corrente em meados do seculo XX, revela-nos que esta região registou um lento processo de transição para uma economia moderna. Podemos classificar os aproveitamentos existentes em três grandes grupos, de acordo com a sua natureza e função económica: os que se encontram ligados a sobrevivência de uma economia tradicional (moinhos e azenhas, engenhos de linho e de serrar, encanamentos e rodas hidráulicas para rega, e estanca-rios), aqueles que apesar de já estarem associados a indústria moderna conservam características arcaicas (as rodas hidráulicas proporcionando força motriz direta para o acionamento de fábricas e oficinas), e os que representam verdadeiramente as novas formas energéticas utilizadas pela moderna industria (as centrais hidroelétricas). Não deixa de ser interessante sublinhar que todas as indústrias estabelecidas na Bacia do Ave recorreram a este tipo de aproveitamentos: fábricas de fiação e tecidos, curtumes, papel, cutelaria e pentes. Existem ainda aproveitamentos relacionados com outros tipos de atividades industriais, como lavarias de minérios e secas de bacalhau, mas o seu número não e muito significativo.

Subsidiariamente, o Arquivo da ARH do Norte inclui também processos relativos a lavadouros públicos, intervenções nas margens dos rios, extração de água para diversos fins (por exemplo, para um deposito de abastecimento de locomotivas) e, inclusivamente, o estabelecimento de barracas de praia, pois todos eles tinham a ver com as competências que estavam atribuídas aquele organismo. Finalmente, existe ainda um interessante conjunto de processos relacionados com o pessoal que desempenhava funções relacionadas com os aproveitamentos hidráulicos, como os cantoneiros e os guarda-rios.

adaptado de Costa, Francisco da Silva e Cordeiro, José Manuel. Património documental da bacia do Ave. Guimarães: CM de Guimarães, 2ª edição, 2017.