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Descrição
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"Às sete horas da manhã foi cercada a casa do cidadão Francisco Jerónimo Requião, na freguesia de Santa Marinha de Arosa, por um bando de gente armada; perguntando-lhe o Requião, o que queriam? A resposta foi um tiro (dado por Manuel Gonçalves comissário de Agrela) que lhe passou perto de uma perna e lhe furou o capote. Aos gritos de - abra-atira-mata - puseram-no fora de casa, com as armas aperradas, e a mulher e os filhos, deram busca rigorosa à casa, cómodas, gavetas, mesas, armários, tudo com a exacção miguelista. Conduzem depois o pobre homem para uma casa na freguesia de Sarafão: alguns amigos o vão visitar: eis chegam 20 facínorosos armados, gritando os comandantes = morram esses ladrões = morra o preso = Saem, uns levam corunhada de arma, à cara doutros apontam as clavinas, o preso é conduzido de casa em casa, e na manhã seguinte para Guimarães, com ordem de o matarem, se encontrassem alguns homens na estrada!!! Chega o infeliz à cadeia, pede audiência ao administrador, nega-lha: daí a três dias o juiz de direito chama testemunhas por uma parte que a guerrilha do do administrador formou, mas, apesar dos esforços do miliciano administrador as testemunhas nada juraram e o infeliz foi posto em liberdade no dia 18 às três horas da tarde, sofrendo uma prisão de 14 dias sem culpa formada!!! - O motivo deste escândalo foi uma vingança; eis o caso: na eleição da Câmara de Guimarães, em 1835, houve como sempre grande suborno, principalmente no círculo de Sarafão. O Governador Civil mandou tomar conhecimento disto por o Ilmº António de Nápoles. O infeliz Requião foi chamado a depor o que sabia, por ser testemunha de vista: a rainha julgou nula a eleição e se procedeu a outra. O Presidente daquela assembleia tratou por isso de vingar do Requião, po-lo fora de comissário; não admitiu mais lista alguma com o nome dele; e de mãos dadas com os comissários de polícia de Sarafão ....., (António Manuel Alves), e Agrela, e com o administrador do Concelho, a título de procurar ladrões, praticaram o presente despotismo. É verdade que não acharam ladrões, mas sim carne de porco, salpicões e marmelada que roubaram". - De "O Artilheio" nº 34, de 31 de Janeiro de 1837. - Eis aqui os homens do dia nove. O Administrador do Concelho, para se vingar de lhe terem anulado em 1835 a eleição de administrador, a que sempre aspirou para se indemnizar, atropela a sua querida Constituição e calca aos pés o direito do Cidadão!!! O Presidente da Assembleia, homem sem crédito, o Presidente nato da Câmara de Guimarães para se indemnizar deu esta grande batalha, e saiu deputado substituto! Há-de defender bem os direitos do Cidadão! O comissário de Sarafão, António Manuel Alves, que merece confiança do Administrador, tem-se enchido de ladroeiras: foi perseguidor de malhados! E testemunha falsa, nas devassas da chamada Rebelião! O comissário de Agrela, Manuel Gonçalves, que deu um tiro no Requião, é caipira! Miliciano que esteve sempre nas linhas do Porto a favor do Miguel! Também merece a confiança do Sr. Administrador! Eis os empregados da polícia de Guimarães! Eis como o cidadão está ao abrigo da Lei! Tudo isto, estas vinganças, esta prepotência chama-se-lhe = Movimento! Toca a encher! Quem pilhou, pilhou, e quem não pilhou, pilhasse! Idem.