29 de novembro de 1977.

Descrição
Valeu a pena. Não foi tempo perdido, nem energias gastas inutilmente. Como tudo, nada se faz sem ação, sem trabalho, sem luta. O Núcleo Universitário de Guimarães da Universidade do Minho é uma realidade viva, atuante, dando os primeiros passos a caminho de formar aqueles técnicos que a indústria local tanto carece para orientar a sua evolução. Não se nega que certo amor bairrista influiu na luta pela satisfação desta necessidade. Isso é a consequência remota de um passado que não esquece. Mas, neste caso, foi posto de lado o sentido de emulação de que vive em geral os excessos de um bairrismo exacerbado. O que motivou, porém, o interesse criado à volta do Núcleo Universitário foi a falta evidente de uma tenacidade superior que a indústria sente. O seu desenvolvimento depende da conquista de mercados e de vencer a luta concorrencial de outros países. Todavia, as armas que possui não são todas iguais. A melhor técnica e uma criatividade fecunda tornavam os meios de luta desfavoráveis à indústria nacional. Impõe-se, evidentemente, na criação de um ensino que a minore e faça, porventura, desaparecer. O interesse que rodeia este caso é representado pela vida de cem mil pessoas, tantas são aquelas que só neste concelho vivem do labor fabril e a sua incidência na economia nacional.Não era, portanto, um caso meramente bairrista, como os menos avisados são julgados a crer. As contendas de bairrismo têm sempre como fundamento um despique qualquer. Neste caso, esse fundamento não existe, mas sim uma necessidade de cuja satisfação depende também a vida social e o futuro de uma região. Se à firmeza dos vimaranenses se deve o triunfo alcançado, não se deve esquecer que sem a compreensão do Governo nada seria conseguido. O momento, todavia, favoreceu esse ensejo, visto que fazia parte dos programas governamentais o desenvolvimento industrial, a sua atualização e o intento meritório da Nação se tornar autossuficiente em muito do que precisa. Contudo, essa necessidade nacional é contrariada pela falta de técnicos industriais, que maior se tornou quando a «caça às bruxas» fez homiziar uma parte dos poucos que havia. O que era deficiente tornou-se precário.O jubilo natural que a colocação em Guimarães do Núcleo Universitário da Universidade do Minho fez brotar – talvez a primeira vitória – nas gentes vimaranenses é justo, porque depositava nesse triunfo a confiança de que a sua satisfação seria a garantia de um futuro mais venturoso e mais sólido. Foi essa noção do futuro que fez das fraquezas força e da verdade um triunfo magnífico. Guimarães tem a sua devida parte da Universidade do Minho, aquela que desejava. Braga tem a sua. Que cada qual tire da sua parte o maior proveito, sem nunca procurar lesar a vida de outros, os seus interesses e os seus direitos. Cada uma das terras procure viver como for capaz e souber. Mas nunca à custa das dificuldades e de quanto aos outros devidamente pertence. Esse tempo findou. Uma nova vida desponta, um novo Sol nasce, porque uma nova era começa. Já não era sem tempo, dizemo-lo todos.”“A sessão solene. Da parte de manhã do dia 29, foi o Núcleo Universitário de Guimarães devidamente visitado pelos Senhores Secretários de Estado do Ensino Superior e de Investigação Científica, respetivamente, Prof. Dr. Cruz e Silva e Prof. Dr. Tiago de Oliveira; Reitor da Universidade do Minho; Presidente da Câmara Municipal de Guimarães; Corpo Docente; D. Prior da Colegiada; Vereadores e demais autoridades. As novas instalações foram consideradas excelentes e não deixou de causar surpresa o tempo record em que foram efetuadas as respetivas obras – três meses. Admiraram também os magníficos jardins, que o Município pensa transformar em horto e viveiros de plantas e flores de jardim.Terminada a visita, os ilustres visitantes dirigiram-se para o Palácio de Guimarães, aonde foi serviço, na sala dos banquetes, um almoço volante, no fim do qual o Presidente da Unidade Vimaranense, Senhor António Augusto Xavier, proferiu um esclarecido discurso, em que historiou as vicissitudes passadas em defesa da instalação do Núcleo que se inaugurou. Pediu que fizesse parte deste Núcleo um imprescindível computador, pelos benefícios que o mesmo prestaria à indústria local, como teceu um franco elogio às virtudes dos vimaranenses que, ao agruparem-se em volta da Unidade Vimaranense, lutaram decididamente para que a Universidade do Minho aqui fosse instalada, como estava destinado. Souberam dizer «não… não e não», como afirma em determinada altura do seu discurso e terminou por estas palavras: «É dia grande para os Vimaranenses; é dia grande para o Ensino deste País. Regozijemo-nos todos por mais este grande passo dado para o engrandecimento da nossa Pátria. Brindemos pelo futuro desta novel Universidade, que será certamente orgulho de todos nós e fiquemos com a certeza de que não lhe faltará o apoio nem o carinho das populações onde está inserida. Fiquemos também convictos de que o exemplo dado pela população deste concelho na defesa da sua Universidade é garantia plena de que mesmo que maus dias nos esperem, teremos um Portugal próspero, livre, independente e orgulhoso da sua História e dos filhos que possui».Pelas 15 horas, no salão da biblioteca do Núcleo, realizou-se a sessão solene da entrega do edifício ao MEIC, aonde fica provisoriamente instalado este polo da Universidade do Minho, enquanto não se constroem as instalações definitivas. A Câmara Municipal de Guimarães dispensou com a sua aquisição e com as obras cerca de 22 mil contos, num esforço digno de menção, sacrificando outras necessidades, para que Guimarães fosse dotado com este ensino superior, de que depende o futuro de sua economia e a vida de grande parte dos seus habitantes.A Mesa que presidiu a esta sessão foi assim constituída: Senhor Presidente da Câmara, tendo à sua direita os Senhores: Secretário de Estado do Ensino Superior, Prof. Dr. Cruz e Silva. Governador Civil de Braga e Reitor da Universidade do Minho, Prof. Dr. Loyd Braga. À sua esquerda, o Senhor Secretário de Estado de Investigação Científica, Prof. Dr. Tiago de Oliveira e o D. Prior da Colegiada. Falaram: Presidente da Câmara, Reitor da Universidade e Secretário de Estado do Ensino Superior. Os seus discursos, dado o restrito espaço deste jornal, não podem ser transcritos, o que é de lamentar, porque são documentos que fazem parte da história deste dia, bem singular na vida desta terra. A eles nos referiremos no próximo número.Tendo sido já entregue à firma APR – Ateliers de Projetistas Reunidos, a elaboração do Programa e Plano Geral das Instalações Definitivas da Universidade do Minho, compete ao Município apontar o sítio ou sítios aonde podem ser construídas as instalações do Núcleo Universitário de Guimarães, com o fim de serem escolhidos. Devemos dizer que não faltam lugares excelentes para esse fim. Ao serem percorridos os magníficos jardins do Palácio de Vila Flor, um senhor Professor exclamou, encantado: Só lhe falta o «Penedo da Saudade»… Os estudantes do Liceu saudaram os visitantes a toques de bombo e tambores. Isso causou certa surpresa, visto desconhecerem a tradicional e centenária festa de S. Nicolau. A. F.”
Abrangência espacial
Guimarães
É parte de
O Comércio de Guimarães