Moleiros de Travanca (Vila Meã — Amarante)

Descrição
No verso da pintura tem escrito a azul: Acácio Lino. “Moleiros de Travanca”. V.a Meã – Amarante. Efeito da manhã.
Data
Abrangência espacial
B10
Tipo
Óleo s/tela
Formato
605x905 mm
anotações
ACÁCIO LINO (1878-1956) PINTOR, ESCULTOR E PROFESSOR. No dia 25 de Fevereiro de 1878, nasceu, na abastada Casa da Pedreira, em S. Salvador de Travanca, Amarante, o sétimo filho de Rodrigo Pereira da Costa Magalhães e de Maria do Carmo Pinto de Carvalho, Acácio Lino de Magalhães.
Precocemente, com apenas seis anos de idade, Acácio revelou o génio e firmou o nome artístico. Como conta na sua autobiografia, a professora primária Raquel Adília de Magalhães, ao inscrevê-lo no mapa escolar perguntou-lhe o nome, ao que ele respondeu ser Acacinho, como carinhosamente era chamado pela mãe, mas como aquela achou-o muito curto acrescentou-lhe o nome Lino, do seu namorado, e o seu sobrenome, Magalhães. Desde então o jovem estudante e artista passou a usar o nome Acácio Lino de Magalhães.
Aos nove anos fazia desenhos em papel quadriculado e depois, como lhe ensinara o professor Luís Coelho, "a esfuminho", no verso do papel. Pintava flores e frutas.
Aos doze anos, depois de concluído o exame de instrução, fixou-se na cidade do Porto, na casa do seu irmão Albano, advogado com escritório na Rua de Santa Catarina. No Colégio de Nossa Senhora da Lapa tomou o gosto pelos desenhos a crayon. Fazia então retratos influenciados pelo jornal "Charivari". No Colégio de S. Carlos, dedicou-se mais seriamente ao desenho.
Para aprofundar a sua arte, Albano contratou o professor Marques de Guimarães para lhe dar aulas aos domingos. Deste modo, Acácio, além de frequentar o liceu frequentava também o atelier de seu mestre, na Rua Passos Manuel, e depois as aulas de Desenho Histórico e Escultura.
Nesta época conheceu vários artistas como Almeida e Silva, Manuel Moura, Frade, Tomás Moura, Cândido da Cunha, Silva Carvalho, Lago Pinto, Alberto Sousa Pinto e Marques de Oliveira, por quem nutria uma profunda amizade.
O seu pai, que sonhara vê-lo formado em medicina, viu as suas expectativas defraudadas ao descobriu que o filho queria seguir Belas-Artes quando este frequentava o 5º ano de Desenho Histórico. Esta contrariedade aborreceu-o profundamente e levou-o a cortar-lhe a mesada. Acácio Lino matriculara-se, entretanto, em Pintura e Escultura na Academia Portuense de Belas Artes.
Aparentemente, sem o apoio financeiro paterno, Acácio vendia retratos a crayon para pagar as despesas correntes, como a estadia na casa de hóspedes da Senhora Clara, na Rua de Santa Catarina, contando também com ofertas de parentes e amigos que, sem saber, vinham da parte do pai.
Com um grupo de colegas institui um centro de estudo de modelo vivo - o "Centro do Julinho" - na Rua do Dr. Alves da Veiga, onde lecionou gratuitamente Marques de Oliveira.
Enquanto aluno do terceiro ano de Pintura Histórica, concorreu ao pensionato do Estado em Paris. Mas falhou. O escolhido foi Constantino Fernandes. No ano seguinte, concorreu sozinho e ganhou a bolsa, com a pintura "Camões junto ao túmulo de Natércia". Para comemorar este acontecimento, os seus colegas fizeram-lhe um jantar no restaurante portuense "Vidal & Constantino", onde estiveram também presentes Marques de Oliveira, Teixeira Lopes, José de Brito e Oliveira Alvarenga. As colegas, ausentes deste convívio, decoraram-lhe o quarto com violetas.
Partiu para Paris em Abril de 1904. Nesta cidade reencontrou o companheiro Constantino Fernandes e visitou museus como o Louvre. Por mestres, teve Jean-Paul Laurens e Fernand Cormon que lhe legaram o gosto pela pintura histórica. Conviveu com artistas de várias nacionalidades e compatriotas como Marques de Oliveira e Malhoa e alcançou algum sucesso. O seu retrato do pintor brasileiro Moura Teles foi admitido no Salon.
Em 1906 regressou a Portugal, sendo recebido entusiasticamente pelos alunos de Belas-Artes. Voltou, em seguida, a Paris e, daqui, partiu para a Suíça e Itália. No regresso, lecionou, durante algum tempo, a cadeira de desenho no Liceu Alexandre Herculano, mas foi na Escola de Belas Artes do Porto que fez toda a sua carreira de docente. Em 1912 foi nomeado professor interino da disciplina de Desenho Histórico e, mais tarde, chegou a ocupar o cargo de subdiretor.
Paralelamente a esta atividade mantinha um atelier em Travanca, onde buscava inspiração no bucolismo do mundo rural da sua infância. Nas férias, normalmente trabalhava na Casa das Figueiras.
Destacou-se como autor de pintura naturalista e histórica, mas também pintou retrato e temas religiosos. As suas telas podem ser encontradas em museus e entidades portuguesas, públicas e privadas, como o Palácio de S. Bento (Sala Acácio Lino) e o Museu Militar, em Lisboa; a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Câmara Municipal do Porto, o Museu Nacional Soares dos Reis, a igreja dos Congregados e o Teatro Nacional de S. João, no Porto; o Museu Malhoa nas Caldas da Rainha; o Museu Amadeo de Souza Cardoso e a Casa Museu Acácio Lino, em Amarante. Mas também fez escultura. Nela destacam-se os bustos de Soares dos Reis, de António do Lago Cerqueira, de Ciríaco Cardoso e da sua esposa Dina e o medalhão do Mestre José de Brito.
Admirado tanto por colegas como por alunos, foi alvo de muitas homenagens em vida, como a publicação da obra O Livro de Ouro - Homenagem ao pintor Acácio Lino ou a comemoração do seu Jubileu, em Fevereiro de 1948, depois de 36 anos de docência, durante a qual lhe foi concedido o Grau de Comendador da Ordem de Cristo. Recebeu também a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Belas-Artes, em 1927, a Comenda da Ordem de Sant'Iago da Espada e a Medalha de Ouro de Mérito Artístico da Cidade do Porto, em 1940 e 1941.
Em 1950, escreveu no seu atelier uma obra autobiográfica “Recordando…” dedicada aos seus sobrinhos, pois do seu casamento com Dina, que falecera em 1948, não resultou descendência.
Faleceu a 18 de Abril de 1956, com setenta e oito anos, na sua casa no Largo Soares dos Reis. O funeral teve lugar no dia seguinte, com missa na Igreja do Bonfim. Depois disso, o féretro seguiu para o cemitério de S. Salvador de Travanca.
Proveniência
Oferecido pelo autor à SMS em 4‐12‐1937.
Integrou a exposição "Almeida Moreira: o Museólogo", que esteve patente ao público no Museu Almeida Moreira, de 25 Novembro 2016 a 12 Março 2017.