António José Ferreira Caldas

António Ferreira Caldas (1843 - 1884)

Este nosso conterrâneo, filho de D. Maria Maximina da Silva Caldas  e de António José Ferreira Caldas, nasceu na freguesia de S. Sebastião em 3 de Fevereiro de 1843. Estudante muito distinto, frequentou os preparatórios no Liceu de Braga e concluiu de modo brilhante, no seminário do Porto, o seu curso trienal, de Teologia, receendo ordens de presbítero em 11 de Junho de 1870.

Espírito ilustrado, aprimorado cultor das letras, possuindo talento e vasta erudição, em breve se manifestou um orador sagrado de raro merecimento, de palvra fácil e fluente.

Escritor esmerado e jornalista vigoroso, colaborou frequentes vezes na Religião e Pátria, Fraternidade e em outrso periódicos locais e do país, e foi um dos principais fundadores e organizador tenaz e incansável do Espectador, onde assiduamente rubricou como seu nome artigos e notas sobre curiosidades e factosa históricos e arqueológicos de Guimarães. Em 1870 colaborou também em uma peça dramática em quatro actos , denominada: Saudade - episódios de um reinado.

Grande amigo e devotado entusiasta pelas belezas e peal florescência do culto da Penha, publicou, em 1873, um interessante e curioso opúsculo intitulado: Local e Gruta Ermida de N. S. a da Penha.

Mas o que lhe granjeou, um justo e merecido renome como historiador vimaranense e onde revelou intensivamente os recursos do seu espírito de paciente investigador, de estudo, de anotador e de compilador dos velhos pergaminhos, de poeirentos volumes e de tradições, buscando valiosos subsídios para a reconstituição da antiga e moderna história de Guimarães, foi a sua monografia publicada em 1881, documentação coligida cuidadosamente e metodicamente ordenada em dois volumes, sob o título simples e modesto - Guimarães, apontamentos para a sua história -, que mereceu o favor da crítica e o aplauso de todos os que então se dedicavam a estudos desta natureza. (....)

História, artes, ofícios, comércio, indústria, monumentos, instituições, homens ilustres, tudo o que constitui a riqueza de um povo, tudo nesses livros se encontra compendiado, em linguagem sã e amena. A sua obra ficou como o mais valioso e relevante  serviço que o Padre Caldas podia prestar à sua terra e que, ainda hoje, é considerada uma das mais interessantes fontes de consulta para a nossa história.

O sentimento de amor à Pátria não é uma banalidade, quando cada um, na medida das suas forças, concorre da melhor vontade para o aumento e prosperidade da terra que o viu nascer, e é assim que tão patrioticamente nos diz no prefácio: "... os desejos íntimos de manifestar á terra, que me foi berço, a dedicação que lhe consagro, determinaram-me a gastar algumas horas de ócio a coleccionarestes apontamentos, que poderão servir um dia para a história de Guimarães. Ofereço-os aos meus conterrâneos, sem atavios nem galas, mas tais como os encontrei na história, na tradição e nos arquivos pulverulentos...".

Dedicava-se a novos e semelhantes trabalhos, coleccionndo notícias análogas correspondentes a todas as freguesias e lugares a fim de publicaruma série de interessantes monografias sobre etnografia  e arqueologia; o seu prematuro falecimento, em 22 de Julho de 1884, não permitiu que nos legasse mais esse valioso património.

 

Francisco Martins, "António Ferreira Caldas", Guimarães - o labor da Grei, Guimarães, 1923, pág. 59-61, apud 1884 - O Ano que mudou Guimarães, SMS, Guimarães, 2009