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Descrição
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Em desafronta. A tal Associação Dinamizadora dos Interesses do Minho, com assento na capital do Distrito, veio a público com um «vigoroso protesto» contra a decisão do Conselho de Ministros em colocar definitivamente em Guimarães os Cursos Tecnológicos. Esse «vigoroso protesto, mente, intriga e insulta os vimaranenses que defendem a sua Terra contra o esbulho que esse comunicado tenta fazer, como ataca «um grupo de vimaranenses movidos por sentimentos bairristas sem conteúdo ou sentido, exacerbados de um provincianismo retrógrado».Como sempre temos defendido o que a Guimarães pertence, sem tergiversões, estamos, portanto, incluídos no número daqueles patrícios movidos pelo tal «provincianismo retrógrado» no dizer capcioso desse «vigoroso protesto», como se a defesa da razão, pelo direito que nos assiste, seja um «provincianismo» antiquado, como a ADIM proclama nesse infeliz e estúpido comunicado, ao querer justificar um ato de esbulho do que à Cidade de Guimarães pertence e por decreto lhe foi atribuído. Como os bracarenses da ADIM são habitantes do mesmo Distrito e como tal «movidos pelo mesmo provincianismo retrógrado» diferenciam-se dos homens de Guimarães por pretenderem apoderar-se do alheio. Ora essa intenção, não sendo honesta e ainda pela forma de proceder, não se pode classificar de bairrismo, mas sim de arrivismo… pois outro significado não possui…Já satura de tanto afirmar à mente dura dos «provincianos da ADIM» que os vimaranenses nada querem da Universidade de Braga, mas não abdicam um ponto que seja da Faculdade de Tecnologia que faz parte da Universidade do Minho, colocada em Guimarães por decreto do Ministro da Educação Nacional, Prof. Veiga Simão, quando criou a Universidade do Minho, dispersa por diversas cidades desta Província. Guimarães não tem feito mais do que defender a colocação dessa Faculdade e sempre a defenderá como coisa justa e como propriedade sua. Apelidar esta defesa de «uma ação reivindicativa de forma anárquica e golpista nitidamente antidemocrática com pressões ao Governo», isso não passa de uma afirmação ignóbil, que se devolve na íntegra à pétrea mente dos seus autores.A ADIM, essa Associação Dinamizadora dos Interesses do Minho (bracarenses, claro!) está ainda impregnada daquele espírito de 50 anos de «capital do fascismo», quando a sede do distrito flanava em jeito de glória o célebre apoio de «Cidade Santa da Revolução Nacional», que tanto a ufanava. São hábitos velhos caldeados por longos anos que custam a desaparecer. Durante esse meio século, Braga brilhou, refulgiu e alcançou o que quis. As outras terras, pobres delas, viveram como puderam, arrastando as suas necessidades pelas repartições governamentais, sempre sob os olhares vigilantes da sede do Distrito, que não consentia que essas necessidades – quantas delas indispensáveis – fossem satisfeitas além do que convinha ser. O crescer urbano dos outros meios ou o suprir de carências que os valorizassem eram vetadas sem apelo.Pois bem, é esse feio hábito do veto, que dois anos de Liberdade e de Democracia não conseguiram ainda curar, que a ADIM proclama em nome de Braga e atrevidamente em nome da Província do Minho – como se Guimarães não fosse também cidade da mesma Província -, que os Cursos Tecnológicos não devem ir para o Berço da Nacionalidade!É tão aérea a posição neste caso, ou melhor, é tão pouco séria essa posição, visto que a ADIM não proferiu uma palavra e nada disse, portanto, quando foi escolhido o lugar da Veiga, em Guimarães, pela Comissão Instaladora da Universidade do Minho para a instalação da Faculdade de Tecnologia e sobre essa escolha se delineou um plano de pavilhões pré-fabricados que a esplêndida disposição do terreno permitia. Nessa altura, não se ouviram afirmações contrárias, nem objeções condenatórias, tal era a unânime opinião de agrado pela escolha. O local escolhido, entre outros, satisfazia plenamente a instalação da Faculdade decretada e não se ouviu então, nem sequer se aludiu «à incompatibilidade de pontos de vista insanáveis, duplicação de gastos injustificáveis, em período de austeridade! Como conciliar o inconciliável?» - Pergunta o tal «vigoroso protesto», nem naquela ocasião se falou da «solução bipolar carecendo da mínima fundamentação técnico-pedagógica, antes contrariando frontalmente os extensos, laboriosos e caros estudos e pareceres existentes, quer do foro especificamente universitário, quer dos projetos e planeamento regional, logo começou a ser fortemente contestada pelos vários setores interessados – professores, funcionários da Universidade, alunos e população em geral», como no sobredito «vigoroso protesto» da Associação Dinamizadora, AGORA se afirma!A unanimidade que então existiu com a satisfação pelo local escolhido da Veiga fazia antever um caso felizmente arrumado com inteiro acerto. Tempos depois, veio a saber-se que o Ministério da Educação Nacional não tinha aprovado o terreno escolhido! Porquê? É a seguir a esta incógnita desaprovação que principia a campanha contra a bipolarização da Universidade do Minho; que se propõe o «campus universitário» que os estudos levados a cabo fixaram em Taipas (com o inteiro desagrado de Braga, já se vê!), mas o MEIC discordou, porque esse sistema se encontrava ultrapassado, e começa então a ser concentrada na «Cidade Santa» a Universidade de Braga, combatendo-se, então, acerrimamente a colocação em Guimarães dos Cursos Tecnológicos que lhe pertencem e fazem parte da Universidade do Minho, polarizada em mais cidades desta província. Ora, Guimarães não se deixa espoliar mais uma vez, fiquem certos disso os indivíduos da ADIM e está alerta, tanto contra a sua demagogia aleivosa, como à sua desatinada ambição. Já em 1969, em plena Biblioteca de Braga e no salão medieval, o assunto da colocação de um Instituto Industrial em Guimarães foi abordado, «dada a condição desta cidade ser a capital industrial da toda a região aquém Porto e também do seu potencial humano, pois o concelho de Guimarães representa cerca de um quarto do total da população do Distrito de Braga», como muito bem disse o Sr. Prof. Santos Simões no colóquio ali realizado, com a presença do Ministro Prof. Veiga Simão, palavras, no entanto, desagradavelmente interrompidas por vezes pelo então Governador Civil, Santos da Cunha, que chegou a impedir o uso da palavra a outros vimaranenses presentes… A ditadura era assim… e não fosse Braga a sua «capital espiritual»!Não, senhores da ADIM, não é por esse processo que melhor defendem a sua Terra e a sua parte no Minho, num direito que ninguém lho nega, o que se lhe opõe como razão moral é não procurarem locupletarem-se com aquilo que aos outros pertence. Isso não é bairrismo. É, sim, arrivismo e do mais torpe.”
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Data
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15 outubro 1976
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Abrangência espacial
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Guimarães
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É parte de
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O Comércio de Guimarães