Varrões/porco/javali

Descrição
Cabeça de varrão, isto é, porco bravo ou javali, em granito, e parte do focinho de outra, encontradas por Martins Sarmento nas explorações do castro de Sabroso, em 1877. Esta cabeça apresenta na parte posterior uma saliência quadrangular, o que mostra ser uma peça independente, que encaixava no corpo da escultura. As esculturas pré-históricas, talvez de origem céltica, representando javardos, são vulgares em Portugal, especialmente na Província de Trás-os-Montes. Só do distrito de Bragança conhecem-se 16. Esculturas do mesmo tipo, figurando varrões e touros, encontram-se em Espanha (verracos e taros), nas regiões de Salamanca, Zamora, Ávila, etc. (Vide, p. ex., J. R . Mélida, Arqueologia Española, Ed. Labor, Barcelona, 1929, pp. 190-192). O Museu Arq. Nac. de Lisboa também possui uma colecção destas figuras zoomórficas de pedra. O significado destas esculturas é muito discutido. Querem uns investigadores que elas tivessem um sentido votivo e totémico, de carácter funerário, por isso que algumas se têm encontrado junto de sepulturas; em favor desta hipótese destaca-se também o facto de muitas das nossas estelas sepulcrais dos tempos proto-históricos apresentarem insculpidas figuras de sumos. Outros arqueólogos querem que tais esculturas fossem simples marcos limitativos de territórios tribais, ou então balizas de uma rota seguida pelos pastores que acompanhavam os rebanhos transumantes. Finalmente, propõem Outros que estas grosseiras representações de cerdos fossem divindades protectoras do gado, ainda com o carácter totémico, colocadas à entrada dos currais, como as aparecidas no castro de Las Cogotas (Cardeñosa — Ávila). Alguns varrões apresentam gravadas epígrafes latinas (vide Corpus Inscriptionum Latinarum, II, n.os 734, 947, 2919, 3051. 3052); um, procedente de Ávila, contém uma inscrição em caracteres ibéricos. Por vezes encontram-se estas figuras zoomórficas reunidas em determinado local, como as quatro situadas não longe de Ávila, os famosos «toros de Guisando», ou como as que vemos em Portugal, no Gerês, junto da via romana conhecida por «estrada da Geira». Foram talvez reunidos em época tardia, deslocados de outros sítios, ou então, já de início ali colocados juntos, sinalizando lugares de sepulturas pertencentes a alguma primitiva necrópole. E até em jóias pré-históricas nos aparece o varrasco, como elemento decorativo, v. g. numa lúnula de prata, proveniente de Chão de Lamas (Miranda do Corvo —Coimbra), hoje no Museu Arqueológico Nacional de Madrid (vide artigo de J. Cabré, in Actas y Mem. de la Soc. Esp. de Antrop., Etnogr. y Prehist., Madrid, 1927, t. VI, p. 265, fig. 2). Não são raras, também, as figurinhas votivas ibéricas, de bronze, representando touros e javalis.
É parte de
Escultura
Abrangência espacial
Castro de Sabroso, Guimarães.
Encontra-se atualmente exposta no Museu da Cultura Castreja, Guimarães.
Identificador
86
Referências
Dispersos, de F. M. Sarmento, p. 30; Revista de Guimarães, XXIII, p. 43; M. Sarmento, Ms. Inéditos, cad. 35, p. 67; E. Cartailhac, Ages préhist. - fig. 406; Religiões da Lusitânia, de J. L. vasconcelos, III, p. 15 a 43 e 441 - 442; Juan Cabré Aguiló, Excavaciones de Las Cogotas - Cardeñosa (Ávila), I, El Castro. Mem. n.º 110 de la Junta Sup. de Excav. y Antig., Madrid, 1930, p. 39, 106, 107; Florentino L. Cuevillas e Rui de Serpa Pinto, Estudos sobre a idade do Ferro no NW da Península, in Arquivos do Seminário de Estudos Galegos, Compostela, 1933 - 34, t. VI, p. 54 a 56 - «O culto do porco - bravo»; Luís Pericot Garcia, Historia de España, Barcelona, 1934 - t. I (Épocas primitiva y romana), p. 352 e 397; Mário Cardozo, Citânia e Sabroso, Guimarães, 1965 - p. 64 e Est. 39, n.º 1; Padre F. M. Alves, Memórias Arqueológico - históricas do Distrito de Bragança, Porto, 1934, IX, p. 41 - fig. 8, p. 72 - fig. 37, p. 77 - fig. 42, p. 83 - fig. 45, e p. 541 e ss.; Padre César Morán, «Toros y verracos ibéricos», in O Instituto, Coimbra, 1926 - vol. 73, p. 633; P. Paris, Essai, t. I, p. 56 e ss., t. II, pl. III, entre págs. 192, 193, e p. 197, figs. 312 a 318. O Archeologo Português, vol. 1, pp. 127, 236, 237; Religiões da Lusitânia, de J. L. Vasconcelos, vol. III. p. 15 - 43.