Citânia de Briteiros
Localização
Sítio arqueológico situado no topo do Monte de S. Romão, freguesia de S. Salvador de Briteiros, concelho de Guimarães. Monumento Nacional (Decreto de 16 de Junho de 1910 ).
EN 309, ao Km 55 Briteiros S. Salvador, Guimarães
Horário
Encerra nos dias 1 Janeiro, Domingo de Páscoa e 25 de Dezembro.
Visitas guiadas e informações: +351 253 478 952 | citania@msarmento.org
URL: www.msarmento.org
Blog: pedraformosa.blogspot.com
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Descrição
A Citânia de Briteiros é um dos mais expressivos povoados proto-históricos da Península Ibérica, quer pela dimensão, quer pela monumentalidade das suas muralhas, urbanismo e arquitetura. Por outro lado, é um dos sítios paradigmáticos da História da Arqueologia Portuguesa e Peninsular. O seu estudo principiou em 1874, quando Francisco Martins Sarmento (1833-1899) dirigiu a primeira campanha de trabalhos arqueológicos. Nos anos seguintes continuou a descobrir ruínas e decidiu comprar os terrenos onde fica o castro, num gesto sem precedentes em Portugal. No século XX as campanhas de escavação, ou restauro, foram retomadas por diversos arqueólogos, destacando-se Mário Cardozo, Presidente da Sociedade a que Martins Sarmento legou o seu nome, os sítios arqueológicos que adquiriu, a biblioteca, os manuscritos e as suas residências em Guimarães e Briteiros (Solar da Ponte).
Em consequência dos sucessivos trabalhos, é hoje visível uma extensa área de ruínas, tanto na plataforma superior (acrópole), como na encosta leste. Todavia, apesar das campanhas de estudo já realizadas, o subsolo do povoado ainda esconde muitos segredos e valiosa informação científica. A fase inicial de utilização do monte de S. Romão remonta ao Neolítico Final e Calcolítico, quando vários painéis com gravuras rupestres foram gravados na penedia granítica da encosta nascente. Enquanto habitat, a ocupação do local será datável dos primórdios do I milénio antes de Cristo, inserindo-se no período designado como Idade do Bronze Atlântico. No entanto, a fase áurea da Citânia estende-se entre o século II a. C. e o câmbio da Era, tendo sido ainda habitada após a integração do Noroeste Peninsular no Império Romano, durante os séculos I e II d. C.. No século X, uma pequena ermida cristã seria edificada na acrópole, entre os escombros do antigo povoado. As ruínas da Citânia, o seu subsolo, os objectos recolhidos testemunham, pois, milénios de história. Diferentes materiais que testemunham esta ocupação podem ser observados no Museu da Cultura Castreja, no Solar da Ponte, em Briteiros.
Localização
Como muitos outros castros do Noroeste Peninsular a Citânia ergue-se num relevo em esporão, sobranceiro ao rio Ave, ou seja, num local onde os seus habitantes podiam organizar uma economia diversificada. O território envolvente do povoado era gerido de forma bem planeada, e de acordo com o ritmo das estações do ano, aproveitando um leque muito variado de recursos: as areias e o pescado do curso de água (rio Ave); as madeiras da floresta ribeirinha (salgueiros, amieiros); o trigo, a cevada, o milho miúdo e o linho, produzidos nas terras do sopé do esporão; os frutos selvagens (bolotas de carvalho e de sobreiro) dos bosques que se conservavam nos vales mais rasgados a poente; e os pastos (gado bovino, ovino e caprino) das vertentes que se estendiam até ao Monte do Sameiro, periodicamente renovados por queimadas. A outra escala, mais ampla, importa assinalar que a Citânia se situa num ponto estratégico do vale do rio Ave, dominando o limite da navegação fluvial, a rota comercial entre o litoral e as montanhas do interior. Controlava, também, um corredor de circulação sul - norte que leva do vale do Douro ao do rio Minho, cruzando sucessivas portelas. A Citânia de Briteiros era, pois, uma verdadeira cidade fortificada, com uma pujante atividade económica.
As muralhas
Todos os castros, tanto os grandes povoados do tipo das citânias de Briteiros ou de Sanfins, como os mais pequenos, eram defendidos por muralhas. Para muitos investigadores a abundância de fortificações revela um estado de guerra endémico. Para outros as muralhas tinham sobretudo uma finalidade simbólica, como expressão de poder. Na Citânia de Briteiros conservam-se pelo menos três linhas de muralhas convergentes para norte e mais uma suplementar, erguida no istmo de acesso ao esporão. Distinguem-se, também, nesta zona dois fossos escavados na rocha. A primeira linha de muralha, que se pode observar de perto, situa-se no lado poente do castro, onde ainda se conserva uma porta. Do topo desta muralha divisam-se outras três linhas defensivas, dispostas ao longo da encosta noroeste. Do lado nascente as muralhas ficam para além da Estrada Nacional, o que nos faculta uma ideia da extensão do povoado.
Urbanismo
Ao percorrer as ruas da Citânia o visitante está a caminhar pelas artérias que ordenavam uma pequena cidade. Para diversos autores a organização do espaço em ruas, quarteirões e unidades habitacionais é já um produto da influência romana. Devemos, porém, salientar que o Império Romano se limitou a difundir modelos anteriores, forjados no Mediterrâneo, e que já teriam alcançado o Noroeste da Hispania. Admitimos que alguns pormenores construtivos já sejam de inspiração romana, mas a matriz urbana da Citânia é mais antiga. Em boa verdade, a cronologia do urbanismo dos castros do Noroeste é um dos problemas que está por estudar, com necessária profundidade e amplitude, uma vez que se notam diferenças entre a organização espacial de Sanfins (Paços de Ferreira) e a de Briteiros, bem como entre este último sítio e a Cividade de Terroso (Póvoa do Varzim), ou a Citânia de Santa Luzia (Viana do Castelo). Uma das características muito interessantes da Citânia de Briteiros é a diversidade estrutural das unidades habitacionais, o que proporciona ao povoado uma fascinante paisagem urbana.
Em destaque
- Os diferentes bairros e ruas do final da Idade do Ferro, na encosta nascente;
- A porta defensiva na primeira muralha, de onde se conseguem avistar a segunda, terceira e quarta muralhas;
- As reconstruções de duas casas circulares, feitas no século XIX;
- A casa do conselho, um grande espaço circular, com bancos de pedra, que o local de funcionamento de um senado local;
- O Balneário Sul, com a sua pedra formosa original.
Bibliografia
- Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Inventário, Lisboa, 1993, vol. II, Distrito de Braga, p. 48;
- CARDOZO, M., Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso, 11.ª edição, Guimarães, 1990;
- SILVA, A. C. F., A Cultura Castreja no Noroeste Português, Paços de Ferreira, 1986, p. 31 - 33, Est. XL, 3;
- CENTENO-SILVA, A. C. F., Corte estratigráfico na Citânia de Briteiros (Guimarães) 1977 - 1978, Revista de Guimarães, 88, 1978, pp. 63 - 69;
- SILVA, A. C. F.; CENTENO, R. M. S., Sondagem arqueológica na Citânia de Briteiros (Guimarães). Notícia sumária, Revista de Guimarães, 87, 1977, pp. 277 - 280