Na Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento existe um curioso opúsculo, com o sugestivo título «Aviso ao povo para não morrer de bexigas». Sobre esta publicação de um farmacêutico vimaranense, João Lopes de Faria assinala nas suas efemérides que, em 1 de março de 1873, «A autoridade administrativa convidou os farmacêuticos para uma reunião a fim de prestarem todo o auxilio aos doentes atacados das bexigas, cuja epidemia grassava nesta cidade, que estivessem em circunstâncias desfavoráveis e com poucos recursos para medicar-se no seu domicílio. O hábil farmacêutico Manuel José de Passos Lima, “O Pilro”, da Rua de Santa Rosa de Lima, publicou em 7 deste mês um folheto, impresso, com o título de Aviso ao Povo para não morrer de Bexigas, ou considerações sobre a Epidemia da Varíola que custava 100 reis.»

Nesta obra, Passos Lima começa por apresentar uma curiosa definição de epidemia, recordando a etimologia da palavra:

«Este termo, que vem de duas palavras gregas, na nossa linguagem, quer dizer: mal, que está em cima do povo. É na verdade eloquente essa definição.»

A leitura do texto permite-nos observar que Passos Lima era um homem culto e bem informado, o que se torna evidente pelas abundantes citações de autores franceses e ingleses. Explica eloquentemente a origem e as vantagens da vacina, recordando, com ênfase, a frase que o Instituto Vacínico de Edimburgo recomendava que o clero da Escócia dirigisse aos pais, na altura do batismo de uma criança:

«se esta criança morrer de bexigas naturais, vós somente sois o culpado da sua morte, por que tendes na vossa mão um pronto e eficaz meio de a livrar desta fatal enfermidade, e este meio é a vacina dádiva do Céu.»

Para quem não tinha acesso à vacina, perante um doente com bexigas, destacando a elevada contagiosidade da doença, o autor apresenta uma série de recomendações, entre as quais: que o doente deve ser colocado numa sala ampla, limpa, arejada, não dormindo junto dele pessoa alguma; que se devem mudar todos os dias as roupas brancas da cama, bem como as camisas e despejar os vasos logo que os doentes façam alguma evacuação.

Finalmente, conclui, afirmando que dava por bem pago o trabalho que teve «se tiver a ventura com ele de salvar a vida a uma só pessoa.»

Para os mais curiosos, segue a ligação para o texto integral: https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/arquivo-digital/item/105708#?c=0&m=0&s=0&cv=0